Um dos
desafios da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano, da
Assembleia Legislativa do Estado, será apurar informações detalhadas de como
funciona a rota de tráfico humano a partir de Rondon do Pará e de outras
cidades daquela região do sudeste paraense, com destino principalmente aos
Estados Unidos. É que as pessoas têm receio de comentar o assunto. Por isso, e
para que possam coletar mais detalhes, os integrantes da CPI estão programando,
para abril, uma viagem até Rondon do Pará.
O
deputado Carlos Bordalo, relator da comissão parlamentar, revelou que
informações extraoficiais indicam que seis mil pessoas que saíram de Rondon do
Pará e de outras cidades daquela região e entraram ilegalmente nos Estados
Unidos não podem voltar para o Brasil porque estão devendo dinheiro para
aqueles que as transportaram até aquele país. "As pessoas, para viajar,
têm que se endividar. E elas ficam ‘presas’ lá por causa da dívida com os agiotas",
completou. Ele ressalvou, porém, que esses dados são informais, razão pela qual
os parlamentares viajarão para Rondon.
Bordalo
fez essa revelação após participar, ao lado dos deputados João Salame(PPS),
presidente da CPI, Edmilson Rodrigues e Divino da primeira reunião
administrativa da CPI neste ano, que ocorreu na tarde da última terça-feira. A
comissão parlamentar, que começou a atuar em março de 2011, encerrará suas
atividades em 22 de abril. Mas, após essa data, os parlamentares ainda terão 35
dias de atividades para iniciar a produção do relatório final. Informações
repassadas à CPI indicam que, há muito tempo, Rondon do Pará vem se
consolidando como ponto de tráfico de pessoas com destino a outros países, em
especial para os Estados Unidos.
Ainda de
acordo com os deputados, as pessoas, seduzidas pela possibilidade de uma vida
melhor em outro país, são convencidas a sair do Brasil de forma clandestina.
Para tanto, emprestam dinheiro de agiotas. "Os recursos são emprestados a
juros altos e com a promessa de que, ao chegar nos Estados Unidos, seriam
feitos desembolsos mensais e contínuos para cobrir a dívida impagável. A dívida
serviria para garantir custos de passagem e despesas pessoais, inclusive o
pagamento do ‘coiote’", informa a CPI.
Nos
EUA, os "coiotes" são famosos por atuar na fronteira com o México,
transportando pessoas de todas as partes do mundo. O deputado Carlos Bordalo
afirmou que as famílias das vítimas são "forçadas a vender propriedades,
casas, carros, vender aquilo que conseguiram juntar", para, com o
dinheiro, tentar trazê-las de volta para o Pará. Para desvendar o funcionamento
dessa rede de tráfico humano, os parlamentares tentarão localizar familiares
das pessoas que estão "presas" nos Estados Unidos.
A
prefeita de Rondon do Pará, Cristina Malcher, disse ontem que, até o momento,
nenhum integrante da CPI nem mesmo autoridades da área de segurança pública
entraram em contato com ela para tratar sobre essa possível rede de tráfico
humano no município. Segundo ela, muitos moradores de Rondon residem nos
Estados Unidos, para onde viajaram em busca de uma vida melhor. Ela ponderou,
porém, que não possui elementos para informar a maneira como essas pessoas
ingressaram naquele país.
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