quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

CPI do tráfico humano vai a Rondon do Pará para investigar suspeitas


Um dos desafios da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano, da Assembleia Legislativa do Estado, será apurar informações detalhadas de como funciona a rota de tráfico humano a partir de Rondon do Pará e de outras cidades daquela região do sudeste paraense, com destino principalmente aos Estados Unidos. É que as pessoas têm receio de comentar o assunto. Por isso, e para que possam coletar mais detalhes, os integrantes da CPI estão programando, para abril, uma viagem até Rondon do Pará.

O deputado Carlos Bordalo, relator da comissão parlamentar, revelou que informações extraoficiais indicam que seis mil pessoas que saíram de Rondon do Pará e de outras cidades daquela região e entraram ilegalmente nos Estados Unidos não podem voltar para o Brasil porque estão devendo dinheiro para aqueles que as transportaram até aquele país. "As pessoas, para viajar, têm que se endividar. E elas ficam ‘presas’ lá por causa da dívida com os agiotas", completou. Ele ressalvou, porém, que esses dados são informais, razão pela qual os parlamentares viajarão para Rondon.

Bordalo fez essa revelação após participar, ao lado dos deputados João Salame(PPS), presidente da CPI, Edmilson Rodrigues e Divino da primeira reunião administrativa da CPI neste ano, que ocorreu na tarde da última terça-feira. A comissão parlamentar, que começou a atuar em março de 2011, encerrará suas atividades em 22 de abril. Mas, após essa data, os parlamentares ainda terão 35 dias de atividades para iniciar a produção do relatório final. Informações repassadas à CPI indicam que, há muito tempo, Rondon do Pará vem se consolidando como ponto de tráfico de pessoas com destino a outros países, em especial para os Estados Unidos.

Ainda de acordo com os deputados, as pessoas, seduzidas pela possibilidade de uma vida melhor em outro país, são convencidas a sair do Brasil de forma clandestina. Para tanto, emprestam dinheiro de agiotas. "Os recursos são emprestados a juros altos e com a promessa de que, ao chegar nos Estados Unidos, seriam feitos desembolsos mensais e contínuos para cobrir a dívida impagável. A dívida serviria para garantir custos de passagem e despesas pessoais, inclusive o pagamento do ‘coiote’", informa a CPI.

Nos EUA, os "coiotes" são famosos por atuar na fronteira com o México, transportando pessoas de todas as partes do mundo. O deputado Carlos Bordalo afirmou que as famílias das vítimas são "forçadas a vender propriedades, casas, carros, vender aquilo que conseguiram juntar", para, com o dinheiro, tentar trazê-las de volta para o Pará. Para desvendar o funcionamento dessa rede de tráfico humano, os parlamentares tentarão localizar familiares das pessoas que estão "presas" nos Estados Unidos.

A prefeita de Rondon do Pará, Cristina Malcher, disse ontem que, até o momento, nenhum integrante da CPI nem mesmo autoridades da área de segurança pública entraram em contato com ela para tratar sobre essa possível rede de tráfico humano no município. Segundo ela, muitos moradores de Rondon residem nos Estados Unidos, para onde viajaram em busca de uma vida melhor. Ela ponderou, porém, que não possui elementos para informar a maneira como essas pessoas ingressaram naquele país.

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