Entidades
de defesa dos direitos humanos protestam contra decisão judicial que beneficiou
Luiz Sefer
A Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de sua Regional Norte 2, e entidades de
defesa dos direitos humanos protestaram, ontem à tarde, contra a absolvição do
ex-deputado Luiz Sefer, que, por dois votos a um, foi inocentado, pela 3ª
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, da acusação de estupro.
Segundo as entidades, a decisão judicial deixou o "Pará de luto e
representou um retrocesso no enfrentamento" a esse tipo de crime.
Sobre a absolvição do ex-deputado, Marinor argumentou que
"faltou responsabilidade social, cumprimento da lei, tratamento justo ao
caso, que é absolutamente estruturado de elementos que facilitariam a
condenação em qualquer instância da Justiça". Ainda de acordo com ela, o
processo foi julgado na "calada da noite", na véspera do Círio e sem
o conhecimento da sociedade. Ela informou que, no próximo dia 21, às 11 horas,
as entidades terão uma audiência com a presidente do Tribunal de Justiça do
Estado, Raimunda Noronha, a quem irão solicitar que "tome as providências
de forma célere, como o Tribunal tomou agora para julgar o processo que
inocentou este criminoso, que viola direitos sexuais de crianças e
adolescentes". "Temos provas substanciais e, por isso, podemos dizer
que ele é um pedófilo", completou.
Marinor disse que o Ministério Público do Estado está preparando
recurso contra a decisão do Poder Judiciário, que será assinado por vários
promotores de Justiça. Esse recurso será impetrado no Superior Tribunal de
Justiça.
Ex-deputado afirma que
adversários políticos se beneficiaram
Logo após a coletiva, Luiz Sefer também reuniu a imprensa e se
disse vítima de calúnia. "Foi feita Justiça de verdade agora. Havia dois
lados nesse julgamento. O meu e o dos meus caluniadores. Com minha absolvição,
eles foram condenados", completou. Ele classificou como "quadrilha"
o grupo formado por todos aqueles que querem prejudicá-lo.
O ex-deputado disse ainda que foi "execrado em praça
pública". "A minha família sofreu um inferno e não tive direito ao
que estou tendo agora, ou seja, ao contraditório, direito a voz. Tudo no processo
mostra a calúnia bárbara que fizeram contra nós. O Pará está de luto? O Pará se
ressurgiu, porque a Justiça não se submeteu à pressão política nem à pressão da
mídia", afirmou.
Assim como disse na entrevista publicada na sexta-feira passada
por este jornal, Sefer afirmou que "tudo não passou de armação
política". Segundo ele, o deputado federal Arnaldo Jordy e a senadora
Marinor Brito se beneficiaram ao atacá-lo.
Sefer desafiou Jordy a mostrar o processo que o parlamentar
informou que ele responde na Paraíba: "Que ele diga qual o processo, qual
é a pessoa". Classificou ainda como "doidice e
irresponsabilidade" a informação, também dada por Jordy, de que pagou R$ 6
milhões ao advogado Márcio Thomaz Bastos. Aos jornalistas, disse: "Vai ver
a ficha limpa do Jordy. Vai ver". Em outro momento, citou um fato que
ocorreu em Maracanã, envolvendo o deputado Jordy, mas não entrou em detalhes.
"Esse cidadão representa o povo e enganou 200 mil pessoas. Está na hora de
parar com esse comportamento irresponsável, caluniador, de ódio. Perderam e
acabou".
Luiz Sefer disse que vai processar todos aqueles que o
caluniaram. "Quero pegar um a um. Vou processar todos os que participam
dessa quadrilha. Não com ódio e rancor, mas com firmeza e serenidade". Ele
afirmou que, agora, sairá de férias, para poder se recompor e, depois,
reordenar sua vida. Ele ainda não decidiu se, ano que vem, se candidatará
novamente.
Militante fala em
"retrocesso da justiça"
Nazaré Sá, do Fórum Estadual da Criança e do Adolescente, disse
que a absolvição do ex-deputado foi um "retrocesso da Justiça".
"Pra que servem a lei e a Justiça?", questionou. Presidente da
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), Marco Apolo disse que
o resultado do processo "deixou a todos indignados. Envergonha todo o povo
paraense. Não é à toa que o Poder Judiciário paraense tem uma péssima reputação
em todo o País", afirmou.
Em nota, a Regional Norte 2, da CNBB, diz que o Tribunal de
Justiça do Pará, com essa decisão, "feriu os direitos de todas as vítimas
de abuso sexual, que só possuem como provas suas palavras e as lembranças do
horror que sofreram".
"Manifestamos nossa indignação com mais esta decisão da
Justiça do Pará. A impunidade, neste Estado, é comandada por aqueles que detêm
poder político e econômico. Essa é a imagem que se configurou com a absolvição
do ex-deputado Luiz Sefer", diz ainda a nota, assinada pela
secretária-executiva da entidade, Orlanda Alves.
Arnaldo Jordy diz que
processo semelhante existe na Paraíba
O deputado federal Arnaldo Jordy disse que Luiz Sefer é acusado
do mesmo crime na Paraíba, mas que o processo corre em segredo de Justiça
naquele Estado. Ele informou que essa informação lhe foi repassada pelo senador
Magno Malta (PR), quando este presidia a CPI Nacional da Pedofilia. "Esse
fato não é do conhecimento da opinião pública porque corre em segredo de
Justiça, mas muitos dos nossos desembargadores têm conhecimento disso",
afirmou Jordy.
Ele disse ainda que "aconteceram coisas estranhíssimas"
no julgamento do ex-deputado, na quinta-feira passada. "Primeiro, a data
em que foi marcado (o julgamento), quando todos os paraenses fazem sua devoção
à nossa padroeira, momento em que as pessoas praticamente abandonam suas
agendas, de qualquer natureza, para viver o Círio". Ele também apontou a
celeridade do julgamento. "Foi publicado no Diário Oficial (da Justiça)
hoje para a sessão de julgamento ser amanhã, pegando todos quase de
surpresa". "Outro ato muito estranho foi a ausência de sustentação
oral do Ministério Público. Um caso notório, de repercussão nacional, em que o
Ministério Público, que é o autor da acusação, abdica da sustentação oral da
acusação. São coisas estranhas no enredo do julgamento", completou.
Arnaldo Jordy disse respeitar a decisão do Poder Judiciário, mas
a classificou como "lamentável, que agride todo o esforço que a sociedade
paraense, e brasileira, vem tendo nos últimos anos no sentido de enfrentar esse
crime hediondo praticado contra seres indefesos, contra crianças e bebês. Foram
mais de 100 mil casos nos últimos cinco anos", disse, citando dados da CPI
da Pedofilia, da Assembleia Legislativa do Pará.
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