segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Prova de redação tradicional deixa deficientes auditivos em desvantagem; eles querem tratamento diferenciado.



Pelo menos 22 alunos com deficiência auditiva que vão disputar o vestibular este ano estão preocupados com a correção da prova de redação. Os candidatos se sentem prejudicados nesta modalidade da prova, pois a escrita dos surdos é diferente dos demais candidatos. Para alguns surdos, o ideal seria que, ao invés da redação escrita, as Instituições de Ensino Superior aplicassem uma prova oral, mas dentro da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Outros candidatos sugerem que a redação seja corrigida por um profissional que tenha inserido em sua formação a Língua de Sinais para que possa compreender a escrita dos surdos.

O candidato Rodrigo Duarte de Queiroz, 29 anos, é um dos candidatos preocupados com a redação. Ele se vai disputar uma vaga no curso de Licenciatura em Letras - Libras e depois de formado pretende fazer concurso público. Rodrigo vê dificuldades nesta modalidade, uma vez que a escrita de quem não consegue ouvir é diferente. "A prova de múltipla escolha a gente entende, mas ao invés de termos de escrever a redação deveria ter um intérprete para traduzir (uma espécie de redação oral)", disse.

Somente na Universidade do Estado do Pará (Uepa), 103 candidatos com algum tipo de necessidade especial se inscreveram para os processos seletivos deste ano - sendo que 88 farão as provas em Belém. Sobre a preocupação dos vestibulandos com deficência física, a Uepa informou que 63 técnicos especializados, lotados na própria instituição, irão acompanhar os candidatos durante a realização da prova. Em relação aos candidatos surdos ou de baixa audição, a Uepa esclareceu que eles serão acompanhados por intérpretes de Libras ou por ledores, que poderão elucidar o conteúdo das provas, em caso de dúvidas.

Sobre a correção da prova, a Uepa não comunicou se haverá algum tratamento diferenciado para os alunos com necessidade especial.

Em resposta a inquietação destes vestibulandos, o Centro de Processos Seletivos (Ceps) da Universidade Federal do Pará (UFPA) explicou que no processo de correção das provas do vestibular neste ano não há tratamento diferenciado aos portadores de necessidades especiais, uma vez que apenas a segunda fase é elaborada pela instituição e nela não há prova de redação, nem questões subjetivas - a redação aplicada na 1ª Fase que é constituída pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Inclusão - Para professora Sônia Teixeira, esta preocupação dos candidatos com deficiência reflete um problema que não se restringe à época do vestibular, e sim em como as escolas regulares estão tratando os alunos com necessidades especiais. "A escola regular não consegue dar conta da inclusão destes alunos. Há poucos profissionais com formação para os surdos, por exemplo", afirmou. Ela leciona na Unidade de Educação Especial Astério de Campos, onde há um projeto de extensão que prepara alunos com deficiência auditiva para os vestibular.

O estudante Carlos Danilo de Moraes Ferreira, 21 anos, é um dos atendidos pelo projeto. O jovem se inscreveu para o curso de Letras - Libras na Universidade do Estado do Pará (Uepa) porque pretende trabalhar como intérprete. "Estudei em escolas que não tinham intérpretes, então enfrentava dificuldades. Quero fazer o vestibular para me desenvolver", comentou o vestibulando, que está preocupado com a prova de redação.

Sônia ressalta que um dos problemas que alunos surdos enfrentam na escola regular é com a falta de comunicação adequada. "O professor não pode explicar o conteúdo de costas para o aluno porque se ele não for um ‘ouvinte’ não vai adquirir conhecimento", frisou.

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