terça-feira, 27 de setembro de 2011

Novo piso R$1.187,97 começa greve nas escolas


PROFESSORES

Movimento contou com adesão parcial da categoria. Mobilização em Nazaré provocou tumulto no trânsito.
O primeiro dia de greve dos professores da rede pública estadual de ensino teve adesão parcial da categoria, o que já era esperado, segundo Rosa Barradas, coordenadora distrital do Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Pará (Sintepp). "Houve acordo com o sindicato para que aquelas escolas que ainda estão fazendo avaliação (prova) concluam o processo antes de aderir ao movimento", afirmou, ontem de manhã, durante a mobilização que teve início em frente ao Centro Arquitetônico de Nazaré (CAN) e terminou com passeata até o Centro Integrado de Governo (CIG), na avenida Nazaré, onde os professores foram recebidos pelos secretários de Estado de Educação, Cláudio Ribeiro, Promoção Social, Nilson Pinto, e Administração, Alice Viana. A audiência, de mais de uma hora, terminou sem acordo.
Os professores exigem o pagamento integral do piso salarial instituído pelo Ministério da Educação (MEC) e aprovado pelo Senado (Lei 11.738, de julho de 2008). "Tínhamos o compromisso do governo do Estado de que, assim que saísse o acórdão, o piso seria pago aos professores. O que mudou? O Estado não se planejou ou acreditava na morosidade da Justiça brasileira para retardar ao máximo a decisão?", questionou Williams Silva, coordenador geral do Sintepp.
Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) negou recurso aos Estados que alegavam que a Lei do Piso era inconstitucional e determinou o cumprimento imediato da lei. O Pará e outros nove Estados alegavam não ter disponibilidade orçamentária para integralizar o novo piso salarial, que é de R$ 1.187,97. "O Estado reconhece o direito da categoria ao recebimento integral do novo piso, mas dependemos de recursos do governo federal para fazer cumprir a lei", afirmou Nilson Pinto, durante a reunião com representantes do sindicato.
A mobilização da categoria teve início por volta das 9 horas. Os professores se concentraram em frente ao CAN e utilizaram faixas, cartazes e um carro som para chamar a atenção para o movimento. Os manifestantes seguiram em passeata até o CIG, causando congestionamento em pelo menos quatro vias. O protesto passou pelas travessas 14 de Março e Rui Barbosa e pelas avenidas Governador José Malcher e Nazaré. Na avenida Nazaré o trecho que vai da travessa Quintino Bocaiúva até a Generalíssimo Deodoro foi interditado por quase 2 horas.
Equipes da Ronda Tática Metropolitana (Rotam) de Polícia Militar (PM) acompanharam a manifestação de longe e de dentro do CIG. Durante a passeata a categoria denunciou as péssimas condições de trabalho nas escolas públicas estaduais e acusou alguns gestores de assediar moralmente professores em estágio probatório para que não aderissem à greve. Os professores também anunciaram que vão mover uma ação contra o Estado para obrigar o governo a cumprir imediatamente a Lei do Piso.
Reunião com secretários acaba sem acordo
Em contraproposta às reivindicações dos professores, o governo do Estado sugeriu que uma comissão formada por membros do Sintepp acompanhe a próxima visita dos secretários de governo à Brasília, o que deve acontecer ainda esta semana. A categoria ouviu a proposta do titular da Secretaria Especial de Promoção Social, Nilson Pinto, que deve viajar acompanhado do secretário de Educação, Cláudio Ribeiro, para um encontro com o ministro da Educação, Fernando Haddad. "As negociações com o MEC estão avançando. Os professores podem ter certeza de que estamos fazendo o possível para que não haja morosidade na liberação desse recurso", afirmou.
De acordo com as lideranças do Sintepp, a proposta seria votada em assembleia da categoria, mas não houve empolgação por parte dos coordenadores do sindicato. "Ir até Brasília só seria interessante se fizesse parte de uma mobilização nacional. Não vamos ouvir lá nada diferente do que já ouvimos até agora", argumentou Williams Silva, coordenador geral do Sintepp.
Os professores esperavam ouvir dos secretários presentes na reunião - além de Pinto e Ribeiro, participou também a titular da Secretaria de Estado de Administração (Sead), Alice Viana - uma proposta diferente da que foi apresentada até agora. O Estado ofereceu 30% da diferença do piso salarial até que sejam liberados recursos do governo federal. No contracheque, esse percentual corresponde a R$ 24,00 ou R$ 25,00, dependendo da categoria. "Todos os esforços que poderiam ser feitos pelo governo foram feitos para garantir a antecipação de 30% do piso e a implantação do PCCR (Plano de Cargo, Carreira e Remuneração dos professores. Aprovado no ano passado e implantado agora em setembro)", disse Viana. Os professores não se convenceram com o argumento. "Os esforços do governo, hoje, não correspondem às expectativas dos professores."
O governo alega que seriam necessários R$ 18 milhões a mais no orçamento mensal do Estado para integralizar o piso salarial nacional e ainda implantar o PCCR dos professores. O plano, da maneira como foi implantado este mês, apresentou distorções que culminaram com a redução salarial de pelo menos 600 docentes. O problema, no entanto, já teria sido contornado pela Sead. "Já derrubamos a folha e incorporamos a diferença como gratificação pessoal", explicou Alice Viana.
Apenas fechamento das avaliações
Parte das escolas da rede pública estadual estava fechada na tarde de ontem em Belém. Por causa da greve dos professores, que começou ontem, os alunos da rede estadual foram liberados mais cedo. Não houve aulas, somente o fechamento das avaliações referentes ao segundo trimestre letivo.
Os estudantes reclamaram da falta de professores e garantiram que somente ontem foram avisados para não ir aos colégios até o fim da paralisação. Os adolescentes Genivaldo Lima e Kelvin Gomes, ambos de 15 anos, que cursam a 7ª série na escola estadual Costa e Silva, no bairro do Souza, acharam ruim ficar sem aulas.
"Não teve aula para gente hoje. Viemos só perder tempo, a gente não sabia que ia começar mesmo na segunda-feira. No ensino médio teve somente as provas, depois mandaram todo mundo ir embora", contou Kelvin.
"Para nós é muito ruim, pois o ano letivo vai ficar mais atrasado e vamos precisar estudar em casa. Os professores avisaram que não vão dar aula nesta terça-feira. Mas eles ganham pouco", reconheceu Genivaldo.

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